Taboas, plaina e afiacao
Marcenaria

Taboas, plaina e afiacao


Aproveitando um intervalo entre as chuvas (sim, o velho Pedro esta outra vez com a corda toda, chorando mares) resolvi dar azo `a minha curiosidade e cortei dois pedacos de 70cm de comprimento, um da taboa de jequitiba, o outra da de marfim-rana. Basicamente porque queria dar uma limpada nelas, ver que cara mesmo e' que tem esses exemplares de essencias ineditas na minha experiencia e, se possivel, dar uma lidada para ver da trabalhabilidade delas...

Bueno, a lida vai ter de esperar. Uns meses: estao, ambas, ainda com teor de umidade excessivo. De qualquer modo, dei uma plainada bem superficial nas duas, nao para tentar qualquer aparelhamento, mas para matar a curiosidade quanto ao aspecto...


As imagens menores mostram as taboas como ficaram depois de levemente plainadas; a imagem maior no centro, apos aplicacao de um pouco d'agua para acentuar os veios.

Acho que tem promessa. E nao pouca promessa, hehe.

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Mas ahi, enquanto amolava a lamina da plaina que tinha acabado de usar — guarde sempre ferramentas de corte com todo o fio, e' uma pratica que me recomendaram, e que adotei e recomendo — me veio a memoria de uma conversa que esta-se desenvolvendo no forum Madeira! sobre afiacao, e pensei talvez algum de meus sete fieis leitores pudesse ter interesse em algumas informacoes basicas sobre o tema...

Bem afiar uma lamina, de ferramenta, de faca, qualquer lamina, consiste fundamentalmente em duas etapas: o desgaste (grinding) e o polimento ou assentamento (honing). (Os termos em ingles entre parenteses, porque nao ha uma terminologia uniforme em portugues; esses sao os termos que eu uso, outros usam outros. Ja os termos em ingles sao exatos, e facilitam consultas pela Rede.)

O desgaste consiste em remocao de material da lamina para construir ou reconstruir uma geometria (angulo do bizel, por exemplo), corrigir defeitos macroscopicos (dentes, entortamentos, etc.), e e' usualmente feito utilizando abrasivos com grana baixa (de 60 a 600G). Para efetuar o desgaste emprega-se usualmente, ou rebolo ou prato rotatorio, com acionamento manual ou motorizado, ou pedras de afiar. E ahi ja comeca a engronha...

O fato e' que, como ja comentei, nao ha qualquer consenso entre afiadores quanto a metodos, taticas, jeitos ou maneiras de afiar. Cada um tem o seu e o de cada um e' que e' o melhor. No que tange a desgaste. Ha quem defenda o uso de motoesmeril e quem o renegue, por mil razoes. Ha quem defenda o uso de rebolos de baixa rotacao, ou de acionamento manual e, claro, quem renegue, por dez mil razoes. Desgaste com esmeril produz evidentemente um bizel concavo, e ha milhoes de razoes para defender, e milhoes de razoes para atacar o bizel concavo. Pratos rotatorios e cintas de lixa, que produzem bizel plano... a mesma coisa, o mesmo desfile de razoes pro e contra. Quanto a afiar manualmente em pedras, utilizando guias para obter um bizel plano, ou afiando na mao livre, o que produz um bizel convexo, ahi ja nos aproximamos de bilhoes de razoes — porque ha literalmente milhares de diferentes tipos de pedras, e isso so para comeco de conversa.

Para certas ferramentas o bizel mais rude que resulta do desgaste ja e' suficiente: machados, machetes, facoes, faca de mesa, etc.
Como?...
Sim, com certeza! Tanto ha inumeros que afirmam que as ferramentas citadas podem e devem se beneficiar de um fio mais afinado, como inumeros outros ha afirmando que o desgaste e' mais que suficiente para o adequado emprego de formoes, plainas, etc. Nao ha consenso, mas parece haver uma maioria que reza pela cartilha de que formoes, plainas e quetais merecem sempre uma afiacao mais apurada. Esse apuro se efetua polindo as superficies planas que formam o gume, o apice do bizel.

O polimento se realiza com uma progressao de abrasivos de grana media (800 a 1200G) a alta (2000 a 30000G). E aqui a controversia dispara, o numero de razoes pro e contra isso ou aquilo e'  algum multiplo do numero de praticantes de afiacao. Sim, porque claro que ha os que nao sao contra, nem a favor, muito antes pelo contrario...

E entao? Como se faz para sobreviver a esse vendaval?
So tem um jeito: pesquisando o que e' viavel e partindo para a pratica e experimentacao, para quem e' partidario de fazer as coisas por conta propria. Ou buscando alguem que possa introduzi-lo nessa selva com alguma orientacao, instrui-lo no caminho das pedras (Mil perdoes!, mas nao resisti.).
Talvez em algum forum? O Madeira!, por exemplo, esta `as ordens, hehe... (http://xilofilos.com/viewtopic.php?f=20&t=2762#p26014)

Abaixo, pensando ilustrar variedades e antagonismos, uma lista de uns poucos videos (ha centenas, milhares!) mostrando algumas variacoes, conforme a visao de diferentes — e reconhecidas — autoridades na coisa:
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E entao, para encerrar o papo comprido, e fosco, com puro exibicionismo, o resultado da minha afiacao da lamina da plaina:

Bizel concavo e microbizel polido ate 15000G. Esta cortando mais que navalha!

So para mostrar que polimento espelhado nao e' figura de retorica, hehe

E era isso, pedindo desculpas aos leitores pela estopada.




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