Madeiras vagabundas
Marcenaria

Madeiras vagabundas


Sei bem das muitas vantagens, tecnicas e taticas, de se utilizar paineis amadeirados (MDF, OSB, HDF, MDP, etc.) em marcenaria, mas... fazer o que? Gosto e' gosto e eu prefiro sempre madeira macica, pelo visual, pelo tato, pela estrutura. Ate pelo cheiro. Mas, apesar do muito que aprecio jacaranda, mogno, teca, as madeiras ditas "de lei" em geral, o fato e' que ultimamente — movido um pouco pela curiosidade e mais pela teimosia natural dos inexperientes, fora inescapaveis consideracoes financeira$, hehe — tenho insistido em utilizar madeiras ditas 'de segunda' em minhas lides, mais especificamente pinus e eucalipto.

Nao acho nem uma nem outra feias, ate pelo contrario, mas nao e' por sua beleza o emprego. Como disse, e' mais por teimosia: de tanto ouvir dizer que "nao da pra usar", quis ver por que diabos nao da.


Bueno... Para inicio de conversa, ha pinus e pinus, eucalipto e eucalipto. De fato, no que toca ao pinus ha dezenas de especies e, quanto ao eucalipto, centenas de especies diferentes no nosso mercado. Cada uma com suas peculiaridades, vantagens e fraquezas. Como nao tenho acesso a informacoes cientificas especificas, e para ser sincero tampouco tenho intencoes de me especializar no assunto, o que faco e' empregar o velho metodo empirico da tentativa e erro. Tendo boa camaradagem nas duas madeireiras que utilizo mais frequentemente, quando compro isso ou aquilo consigo sempre umas amostras, uns retalhos para experimentar, fazer uns testes.




Aprendendo, geralmente ao preco de cometer erros, os jeitos de lidar, penso que tenho obtido resultados ate bem interessantes. A primeira peca em que efetivamente utilizei pinus foi — para variar! — uma caixa, essa ahi ao lado. Custei um pouco a aprender como aparelhar adequadamente e, mais ainda, como dar acabamento. (Pinus dificilmente sai reto da serra, geralmente se encurva. E, como e' repleto de resina, essa resina frequentemente interfere na secagem dos acabamentos.) Mas vai-se pegando o jeito de se contornar os problemas, os macetes, as manhas. E o resultado compensa, penso eu.

De fato, acabei ganhando uma aposta de um amigo, que jogou eu nao conseguiria fazer uma peca de mais porte utilizando pinus. Topei a aposta, e acabei fazendo um armario de canto para meu banheiro que, para o meu gosto, ficou ate bem interessante, inclusive porque pude testar o emprego de umas tecnicas novas para mim, como portas curvas e em cortina:




Vendo o armario recem posicionado na parede e amargando a dor de ter de patrocinar as cervejas como pagamento da aposta que perdera, ainda assim meu amigo nao se deu de todo por vencido. "Mas cade o acabamento? Essa madeira esta crua!", comentou, feroz. Nao adiantou dizer que acabamento a oleo e' na base de uma demao todo dia por uma semana, toda semana por um mes, todo mes por um ano e todo ano para sempre. "Nah! Isso nao vai dar acabamento nunca! E aqui no banheiro, com essa umidade toda, os cupins vao e' logo, logo fazer festa nesse pinus e nesse
cedrinho!"

Se vao ou nao vao, na verdade eu nao sei. Veremos...
Mas mesmo que em par de meses a coisa fique bichada, desconjunte-se, acabe por merecer a lareira — o que duvido muito, diga-se de passagem —, ainda assim considero a experiencia foi muito valida. Principalmente considerando-se a possibilidade que se abre de construir-se pecas a preco zero. Como? Preco zero??

Sim, todo o pinus utilizado na caixa e boa parte do utilizado no armario se originaram de palets, madeira descartada como lixo, o unico custo tendo sido o transportar aqui para casa...


Agora, um pouco inspirado por artigos publicados nA Matriz que o consideram como estruturalmente equivalente `a madeira de bordo (hardwood maple) e com visual semelhante `a cerejeira e ao mogno (exagero, eu acho), mas principalmente porque, ao contrario das outras essencias, sua disponibilidade nas madeireiras so tende a aumentar, estou dando preferencia ao eucalipto em minhas brincadeiras.

A lazy susan que ilustra a primeira postagem desse blog me deixou muito bem impressionado com as qualidades e, principalmente, com o visual do eucalipto rosa. Vamos ver.

Vamos ver...



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