Geladeiras sem luz
Marcenaria

Geladeiras sem luz


Ja bem no inicio do seculo XIX iniciou-se uma industria de fornecimento de gelo a partir do nordeste dA Matriz, mais especificamente da Nova Inglaterra, para os estados mais ao sul e entao para os paises do Caribe. Na Europa o exemplo foi copiado pela Noruega em menor escala, e um negocio planetario estabeleceu-se e cresceu constantemente. Consta que em 1880 o morador urbano medio dos Estados consumia uma tonelada de gelo por ano.

Com isso, ja no comeco do seculo XX estavam estabelecidas redes de distribuidores urbanos de gelo e, nas casas, as chamadas ice boxes ou geladeiras, caixas desenvolvidas para armazenar o gelo e onde colocar-se alimentos. Consistiam essencialmente de um movel com paredes duplas, de madeira por fora e internamente de metal (zinco ou estanho, geralmente), com o oco preenchido com um isolante, mais usualmente serragem, maravalha de madeira. Eventualmente tornaram-se, de simples caixas, em moveis com porta, contendo no alto um compartimento onde colocar o gelo e outro, ou outros, abaixo e/ou ao lado onde colocar-se os alimentos e bebidas que se desejava manter a temperatura mais baixa. A agua do degelo era coletada em um tubo e drenada para o exterior, por uma torneira, ou para uma vasilha ou bandeja de evaporacao, ou nos lares mais abastados drenado para o esgoto.

Os moveis, de inicio bem simples como o modelo noruegues ilustrado `a esquerda, foram evoluindo, passando a ter uma porta frontal para o gelo ao inves do alcapao superior e eventualmente tornando-se moveis de alto esmero, com ricas ferragens e eventualmente incluindo mesmo interior aloucado...



Tambem la pelo raiar do sec.XX, Germano Steigleder Sobrinho resolveu fabricar essas geladeiras na sua entao industria de carpintaria — originando o que viria a ser, aqui no portinho, uma das primeiras fabricas de eletrodomesticos de pindorama e que perduraria ate os 970 quando foi submergida pelas, mm, peculiaridades da politica economica entao exercida pela ditadura.

Sob a marca Steigleder foram produzidos inumeros exemplares em variados modelos desses moveis para refrigerar alimentos e bebidas `a base de gelo. Um desses modelos, como mencionei, inclusive foi parar na casa de meus pais, do qual guardo vaga, esfarrapada memoria...


Agora entao, querendo aproveitar as ferragens mencionadas na postagem anterior para tentar construir uma replica de uma dessas maquinas de antanho, ocorreu-me solicitar o auxilio de Tio Gu e sua cornucopia de informacoes para reavivar aquela memoria.

Encontrei imagens de modelos simplesinhos, de porta unica e de 'carregar' por alcapao no topo, construidos com pinho (Araucaria), uma madeira entao tao barata quanto agua, outros mais refinados em madeira de lei, outros ainda com duas portas, todos seguindo, como era de se esperar pela ascendencia do fundador, muito mais as linhas enxutas dos modelos europeus do que os requintes dos Grandes Irmaos.

Sem enfeites, em pinho

Mais elaborado. Em imbuia? Ou itauba? Ou...?

Em pinho, com duas portas e torneira para drenagem

Duas portas, com bandeja de evaporacao entre os pes. Pinho?
Mais adiante encontrei imagens de um modelo restaurado de duas portas semelhante ao acima, mas mostrando inclusive o interior com suas placas de zinco e as prateleiras de arame no compartimento inferior.

Indiscutivelmente a cor e os detalhes do compartimento inferior eram, nao exatamente iguais mas, bem semelhantes ao que minha memoria guardava da geladeirinha da minha infancia. Mas, nitidamente recordo, aquela era de uma unica porta e de 'carregar' por cima, com tampa em alcapao.

Mais umas conversas com Tio Gu e acabei encontrando o exato modelo. Todavia quem resolveu restaurar o pobre movel optou por reproduzir nele as pinturas que no inicio do seculo eram empregadas para propagandear nA Matriz o mais famoso dos refrigerantes de cola.

A cor um pouco 'amainada'

A cor original
Para mim... Sacrilegio!

E de doer nos olhos, tanto que manipulei a imagem para arrefecer um pouco a vermelhidao e permitir ao menos alguns detalhes da superficie ficassem mais visiveis. Mas, com toda a certeza, e' o exato modelo da minha casa de guri, exceto por as ferragens serem douradas, ao inves de niqueladas como no original.

(Apesar do 'pecado' na pintura, fico grato ao Cristian Michielin, o artesao catarinense que restaurou o movel e que inclusive disponibilizou um video no YouTube mostrando o antes e o depois:
https://www.youtube.com/watch?v=sh6mMxRgfFc )



Mas se minhas costas machucadas justificam o longo periodo em conversas com o Tio, e tudo, e tal, alguma atividade ha de haver. Entao, criei coragem, cortei e aparelhei um pranchao de itaubao para dar inicio aos trabalhos e fiz a tao adiada como necessaria limpeza na 'oficina'.


`A esquerda na foto, as madeiras aparelhadas; `a direita os sacos da limpeza. O mais claro, de 100 litros, com o lixo, o mais escuro, de 50, com as maravalhas das plainas, guardadas porque possivelmente minha cadela vai ter ninhada ainda no inverno, o frio por aqui esta bem acima da media e maravalha — como o pessoal que lidava com gelo sabia bem — e' um excelente isolante para 'atapetar' o ninho dos eventuais cusquinhos, quando chegarem.




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