Bancada de marceneiro - II (Roubo)
Marcenaria

Bancada de marceneiro - II (Roubo)


Cumprindo entao o ameacado em minha postagem anterior, uma analise em tracos rapidos das caracteristicas e especificacoes da bancada de marceneiro projetada por M. Andre Jacob Roubo no sec. XVIII.

- O tampo


A primeira coisa que constatamos ao observar o tampo como proposto por M. Roubo e' que e' feito de uma unica prancha de madeira solida e e' muito grosso (6 a 7 polegadas, a espessura recomendada). Esse 'monobloco' de madeira alem de uma superficie de trabalho plana oferece peso, inercia, firmeza, resistencia a pressoes, pancadas, etc. Estabilidade, enfim.

Entao reparamos que os cantos sao todos em esquadro, um perfeito paralelepipedo, referencia e guia para o mais fundamental dos angulos em marcenaria.

Uma bancada ha de oferecer modos e meios de sujeitar a peca sendo trabalhada, liberando as maos do marceneiro. Mais especificamente, ha de permitir se possa operar livre e confortavelmente em todas as superficies da madeira; faces, lados e topos. Para isso vemos, na seta verde uma morsa, nas setas amarelas um dos furos e um valete (ou valet, ou holdfast) e, na seta vermelha, o batente para plainagem.

Dimensionalmente, a especificacao e' o tampo seja tao longo quanto a mais longa peca a ser trabalhada (6 pes, a recomendacao) e nao tao largo que da frente o braco nao alcance o fundo (recomendado 2 pes).


- Os pes



Os grossos (4"x6") pes da bancada de M. Roubo sao fixos ao tampo atraves de encaixe em espiga e fura duplo, a porcao mais central retangular, a mais lateral ajustada em cauda-de-andorinha. Colada sem folgas, uma juncao extremamente rija (diz-se que em uma boa bancada nada e' peso-pena ou peso-medio, tudo e' peso-pesado!), mais uma vez visando maxima estabilidade.


Ha de se reparar os pes sao plainados rentes, nao fazem qualquer ressalto com o tampo, nem em cima, nem nas laterais, de forma que frente e fundos da bancada sao planos em esquadro com o tampo. Adicionalmente, tambem nos pes ha furos onde posicionar o valete oportunizando, com ou sem auxilio da morsa, prender-se pranchas de lado, permitindo operar com facilidade seus lados ou coloca-las em esquadro com outras pranchas postas no topo.


Na parte inferior os pes sao conectados entre si por travessas encaixadas em espiga e fura, coladas e reforcadas por cavilhas, no sentido de obter-se maxima rigidez na estrutura. A altura das travessas nao deve ser tao baixa que atrapalhe usar-se vassoura para limpar o chao abaixo da bancada, nem tao alta que nao permita colocar-se o pe sob a travessa como ponto de apoio para puxar o corpo. (Sim, seculo XVIII tambem e' ergonomia, hehe.)


- A Morsa 





Uma morsa e' empregada no pe esquerdo dianteiro (a premissa e' que, para plainar, nao ha canhotos, hehe).




Os aspectos mais chamativos aqui sao,

em primeiro lugar, que a morsa seja facilmente removivel, de forma a poder-se liberar sem obstrucoes todo o plano anterior da bancada, caso necessario, e

igualmente liberar-se o tampo, pois o outro aspecto chamativo e' o alto do mordente da morsa ultrapassa em alguns milimetros o plano do topo da bancada, de forma a se possa prender uma prancha sobre o topo, entre o mordente e um dog* colocado em um furo no tampo exatamente em frente ao mordente.




* - Perdao, mas nao consigo me lembrar da traducao em portugues para dog de bancada. Tao logo lembre, ou seja lembrado, hehe, retificarei.


- O Batente

 O batente para plainagem e' um caibro quadrado (4"x4") que se encaixa com absoluta justeza (so deve-se mover, para cima ou para baixo, a golpes de malho) em uma fura aberta rente `a esquerda do pe dianteiro esquerdo. O recuo da fura em relacao `a borda do tampo deve ser tal que um terco a metade do caibro fique encostado no pe.


No topo do caibro e' enfiada uma peca de ferro, como se ve na imagem, de tal forma que a ponta da peca que consiste em um serrilhado fique paralela e ultrapasse um pouco um bordo do caibro. Um rebaixo e' entao cortado no bordo direito da fura de forma que esse excesso serrilhado possa ficar abaixo do nivel do tampo, de forma que quando nao em uso o batente nao ofereca nenhuma obstrucao no topo.



Quando desejado usa-lo, umas batidas de malho elevam o conjunto peca metalica e caibro o quanto desejado acima do nivel do topo de modo que uma prancha a ser plainada possa ser firmada contra o serrilhado, de topo, e o ressalto da morsa, de lado.


- Regalitos


Adicionalmente ao basico mencionado, alguns apendices opcionais sao sugeridos por M. Roubo, e apontados pelas setas na imagem acima:

— atras, `a esquerda, um encaixe, uma fenda onde colocar formoes;

— embaixo, entre os pes, apoiadas nas travessas, algumas taboas formam uma prateleira (quanto mais pesada a bancada, mais estavel, entao ponha-se coisas pesadas la);

— `a direita, sob o tampo, uma gaveta;

— embaixo do tampo, invisivel deste angulo, um pequeno pote fixo ao tampo por parafuso rota para frente e expoe... sebo para lubrificar/conservar as ferramentas.




-- oOo --

OBS. — As imagens que 'chupei' para essa postagem foram editadas a partir de originais postadas no blog de Mr. Jameel Abraham, um dos proprietarios da fabrica Benchcrafted, nA Matriz. Quem quiser ver, os originais e outras belissimas imagens dessa belissima bancada que segue `a risca o projeto original de M. Roubo, e' so dar um clique aqui.




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